Seu filho não desliga o videogame? Sua filha é obcecada por "curtidas" no Instagram? Pode não ser inteiramente culpa deles. Assim como o açúcar de alta teor em um pote de sorvete Ben & Jerry's e aquela especiaria química irresistível nos salgadinhos Cheetos, os ingredientes das redes sociais, videogames, aplicativos e outros produtos digitais são cuidadosamente projetados para mantê-lo obcecado por mais. Enquanto os pesquisadores ainda tentam descobrir se crianças (e pais) podem ser viciados em tecnologia, alguns cientistas da computação estão revelando seus segredos para nos manter viciados.

Resistir à vontade de verificar seu telefone ou desligar a Netflix após outro episódio de Stranger Things cheio de suspense deveria ser uma questão simples de autocontrole, porém, nós humanos somos totalmente dominados. Recursos como notificações de aplicativos, reprodução automática – até mesmo "curtidas" e mensagens que se autodestroem – são cientificamente comprovados para nos compelir a assistir/verificar/responder agora ou sentir que estamos perdendo algo realmente importante.

A tecnologia está causando um conjunto de fenômenos aparentemente desconexos: redução da capacidade de atenção, polarização, cultura da indignação, narcisismo em massa, manipulação eleitoral e dependência tecnológica. Tristan Harris

Por trás dos aplicativos, jogos e redes sociais há toda uma equipe de pessoas cujo trabalho é fazer seus produtos parecerem essenciais. Muitas das técnicas que eles usam são descritas por especialistas em comportamento humano. A maioria dos adolescentes se importa profundamente com a validação dos colegas, por exemplo. Portanto, faz sentido que o feedback dos amigos nas redes sociais – tanto positivo quanto negativo – o atraia até você satisfazer sua curiosidade. Você tem um telefone no bolso, então por que não verificar agora? E agora. E agora?

Cada vez mais pessoas da indústria – incluindo alguns que projetaram esses recursos de captação de atenção – estão se manifestando para denunciar a manipulação digital e até sugerir maneiras das empresas limitarem isso. Na verdade, não são apenas pessoas que estão vindo a público. Em 2017, um memorando interno do Facebook vazou, mostrando como a rede social pode identificar quando adolescentes se sentem "inseguros", "sem valor" e "precisam de um aumento de confiança". Esse não é um problema que "curtidas" podem resolver.

Até recentemente, as grandes empresas de tecnologia defendiam apenas seus produtos. O Facebook, por exemplo, diz que pesquisa com os usuários diariamente para avaliar o sucesso de seus recursos. Mas quando crescentes preocupações levaram dois acionistas da Apple a pedir que a empresa projetasse soluções para a tecnologia potencialmente viciante, a Apple disse sim. Os acionistas também pediram mais pesquisas sobre o impacto do uso da tecnologia nos jovens usuários. Esses estudos poderiam ajudar os desenvolvedores a criar o que Tristan Harris chama de produtos "eticamente projetados" com recursos embutidos que nos indicam dar um descanso à tecnologia.

Existe uma maneira de combater isso agora. Graças às pessoas que estão denunciando esses métodos, você pode identificar truques específicos e refletir sobre como eles afetam seus pensamentos e comportamento. Lembre-se: o outro lado quer reduzir o tempo entre seus pensamentos e ações. Colocar essa pausa ajudará você a resistir aos seus impulsos. Abaixo estão alguns dos principais recursos projetados para mantê-lo preso. Confira também algumas ideias que você e seus filhos podem usar para resistir o uso excessivo.

1. Reprodução Automática

Mais notável na Netflix e no Facebook, a reprodução automática é o recurso que faz os vídeos continuarem a ser transmitidos mesmo após terem terminado. Tristan Harris chama isso de fenômeno da "tigela sem fundo". Com uma tigela que se reabastece, as pessoas comem 73% mais calorias. Ou maratonam muitos filmes.

O que fazer: A reprodução automática geralmente está ativada por padrão, então você precisa desativá-la. O recurso geralmente pode ser encontrado nas configurações da conta do aplicativo. Veja como desativá-lo na Netflix.

2. Notificações

Estudos mostram que notificações push – aqueles pequenos pings e cutucadas que você recebe para verificar seus aplicativos – são formadoras de hábitos. Elas alinham um gatilho externo (o ping) com um gatilho interno (um sentimento de tédio, incerteza, insegurança, etc.). Todos os aplicativos os usam, mas alguns, como o Musical.ly e o YouTube, descobriram que, quando as notificações nos dizem para fazer algo, como "Assista ao novo vídeo da Sally!" ou "Veja quem curtiu sua postagem!", respondemos imediatamente. Essas chamadas à ação não apenas nos interrompem, mas também causam estresse.

O que fazer: Desative-as. A maioria dos dispositivos tem uma seção de Configurações onde você pode desativar as notificações. Você também deve conseguir desativar as notificações nas configurações do aplicativo.

3. Snapstreaks do Snapchat

Um Snapstreak começa depois que dois usuários enviam snaps (fotos) um para o outro por três dias seguidos. Você pode pensar que a competição é a motivação por trás dos Snapstreaks, mas é mais provável que seja devido a uma teoria psicológica chamada regra da reciprocidade. Os humanos têm a necessidade de responder a uma ação positiva com outra ação positiva. As crianças podem ficar tão obcecadas em manter uma sequência que dão acesso às suas contas aos amigos quando não conseguem manter suas próprias sequências (o que na verdade é um risco de privacidade). A regra também está em jogo com os "like backs" – quando você curte a postagem de alguém e pede que curtam a sua para aumentar o seu total de curtidas. Claro, as empresas exploram a regra da reciprocidade porque mais pontos de dados para elas significam mais oportunidades de entender seus usuários e tentar vender-lhes coisas.

O que fazer: Ajude as crianças a entenderem como empresas como o Snapchat estão usando o desejo (positivo) delas de serem gentis com os amigos para fazê-los usar mais o produto. Se as sequências de seu filho estão fora de controle, tente permitir um horário por dia em que seu filho possa enviar snaps, por exemplo, depois de tirar o lixo, arrumar o quarto e terminar a lição de casa. Finalmente, se as sequências de seus filhos são apenas irritantes e não prejudiciais, você pode precisar esperar essa fase passar até que seus filhos sigam para outra coisa.

4. Aleatoriedade

Se você soubesse que o Instagram atualiza seu feed precisamente às 15h todos os dias, seria essa a hora em que você verificaria, certo? Mas isso não manterá você grudado ao telefone. Em vez disso, as empresas de redes sociais usam o que é chamado de "recompensas variáveis". Essa técnica nos mantém procurando interminavelmente por nosso "prêmio", como quem nos adicionou como amigo, quem curtiu nossas postagens e quem atualizou seu status. (Não por coincidência, é também o método que as máquinas caça-níqueis usam para manter as pessoas puxando a alavanca.) Como você nunca sabe o que vai aparecer, você continua voltando por mais.

O que fazer: Desative as notificações de aplicativos (geralmente encontradas nas Configurações do telefone, mas também nas configurações dos próprios aplicativos). Programe um alarme para disparar em um determinado horário todos os dias e então verifique seu feed.

5. Compras no aplicativo

Jogos gratuitos como Clash of Clans e Candy Crush atraem você prometendo emoções baratas e, em seguida, oferecendo compras no aplicativo que permitem subir de nível, comprar moeda para usar no jogo e mais. Mas o verdadeiro truque é como as empresas mantêm você jogando e comprando. Quanto mais você usa o jogo e mais compras no aplicativo faz, mais as empresas aprendem sobre você. Graças aos jogos que se conectam ao Facebook, elas também sabem quem são seus amigos. Isso permite que eles ajustem produtos específicos para você nos momentos precisos em que é mais provável que você compre.

O que fazer: Opte pela versão completa paga dos jogos. Elas são mais baratas – e mais seguras – a longo prazo.

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