Na casa da carioca Carolina Jourdan, mãe do Miguel, 3, a carne não faz parte do menu dos adultos e nem das crianças. No lugar do ingrediente, uma grande variedade de feijões e lentilhas, diferentes verduras e ovos. Retirar a carne do cardápio infantil pode ser prejudicial ao seu desenvolvimento? Como é a rotina da alimentação dessas crianças vegetarianas?
A mãe relata que a opção da família, muito criticada por familiares e amigos, é apoiada pelo pediatra que acompanha a criança. Além de muita variedade de legumes e frutas, Miguel também toma ômega 3, recomendação não obrigatória do pediatra, que a família acatou.
“Não é preciso ingerir carne para crescer forte e saudável“, afirma a nutricionista e professora de alimentação infantil Karin Paciulo. “Mas também engana-se quem acredita que a alimentação vegetariana sempre é benéfica, uma vez que existem alimentos muito calóricos“, completa.
“A base da alimentação do Miguel é feijão sempre com beterraba ou quiabo, acompanhado também de uma verdura, como espinafre, bertalha, couve, abobrinha ou couve-flor. Todo dia ele come ovo e batata doce, aipim ou batata. À noite, toma sopas variadas de legumes”, conta Jourdan sobre a alimentação do filho.
Sem carne, Miguel cresce saudável e apresenta um desenvolvimento pleno. “Ele quis provar peixe uma vez e nunca mais pediu. Desde pequeno já diz que é vegetariano”, conta a mãe. Se os pais são vegetarianos, a criança seguirá o padrão da família desde a introdução alimentar. Porém, é fundamental o acompanhamento de um nutricionista, para que o profissional possa elaborar um plano alimentar equilibrado para a criança e toda a família, e indicar suplementação adequada se necessário.
Proteínas vegetais no cardápio infantil
As proteínas são de grande importância para o desenvolvimento cognitivo e dos músculos. Dessa forma, devem ser adequadas no caso da dieta de crianças vegetarianas e veganas. É possível utilizar proteínas vegetais que, de preferência, contenham aminoácidos essenciais em sua composição. “A primeira proteína que irá entrar na alimentação dessa criança é a leguminosa, como feijão, grão de bico e ervilha”, explica a nutricionista materno-infantil Karine Durães.
A orientação é que os pequenos experimentem esses alimentos logo no início da introdução alimentar. Entre os 6 e 9 meses, quando se entra em um período conhecido como “janela imunológica”, sendo possível testar alimentos alergênicos com mais segurança, pode-se introduzir outras fontes proteicas como tofu ou até mesmo oleaginosas – na forma de pasta de amendoim ou de castanha. Cereais como quinoa e aveia, que são naturalmente mais proteicos, podem ser adicionados à rotina dos bebês para enriquecer algumas refeições.
Relação entre proteínas e gorduras
No entanto, a especialista faz uma ressalva sobre a preocupação com as proteínas nessa fase da alimentação. Como a necessidade das crianças em relação a proteínas é baixa quando comparadas a outras fases da vida, é possível suprir facilmente tal necessidade através do consumo de leguminosas em grandes refeições, como almoço e jantar. “Se todas as refeições da criança tiverem proteínas, a alimentação pode ficar desequilibrada. O bebê vegetariano pode e deve fazer lanches só com frutas, que têm carboidratos, vitaminas, minerais e um pouco de proteína”, pondera Durães.
E as carnes vegetais? “As carnes vegetais, como a proteína texturizada de soja (PTS), cumprem especialmente uma função sensorial do adulto de se aproximar da experiência da ingestão de preparações com carne animal”, comenta a nutricionista. Se é um alimento presente na rotina alimentar da família, pode também ser parte da dieta do bebê. No entanto, a especialista alerta para o cuidado com a composição desses produtos, os quais muitas vezes têm corantes entre seus ingredientes.
Em bebês de até um ano de vida, é essencial se atentar à ingestão de gorduras. Como a carne é uma fonte rica de lipídios, é preciso ter atenção às preparações dos bebês que não consomem alimentos de origem animal. Por isso, a especialista orienta: “A família pode, por exemplo, colocar um fio de azeite na comida da criança. Esse acréscimo já atende a necessidade de gorduras do bebê.”
Ferro, B12 e a suplementação
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, há a indicação de suplementação preventiva de ferro para recém-nascidos a partir do terceiro mês até os dois anos. A instituição recomenda 1mg de ferro elementar para cada quilo da criança diariamente, independente de a criança ser vegetariana ou não. Isso porque a anemia pela deficiência desse nutriente é uma das carências mais nutricionais entre as crianças. Para crianças vegetarianas, torna-se ainda mais importante conversar com um profissional para compreender como está a ingestão de ferro em sua alimentação e também entender como será realizada essa suplementação.
Para Durães, o principal cuidado que deve ser realizado em uma alimentação vegetariana ou vegana é a vitamina B12. Sua falta pode indicar fadiga, letargia, fraqueza, perda de memória e problemas neurológicos e psiquiátricos. Contudo, essa vitamina está disponível apenas por meio do consumo de alimentos de origem animal, como carnes e ovos.
No caso dos bebês em fase de amamentação, a B12 é oferecida tanto por meio do leite materno quanto em fórmulas infantis. “Caso o pequeno consuma apenas leite materno, é importante avaliar a B12 da mãe, porque ela será a fonte dessa vitamina para o bebê”, observa a nutricionista. No caso de crianças que ingerem as fórmulas, vale olhar o rótulo de cada marca e fazer os cálculos de acordo com as necessidades diárias em cada idade. Já para crianças vegetarianas ou veganas acima de um ano – ou que passaram pelo desmame – a nutricionista recomenda também consultar um profissional para a realização de suplementação da B12.
O cardápio das crianças vegetarianas
Em fase de desenvolvimento, todos os nutrientes são importantes para uma criança. Por isso, a alimentação deve ser a mais variada possível, não permitindo que a criança caia no consumo apenas de carboidratos e açúcares.
Para ter uma alimentação saudável e completa, recomenda-se substituir alguns ingredientes: vegetais verde-escuros e leguminosas são fonte de ferro, por exemplo. Uma dica é combinar esses alimentos com outros ricos em vitamina C, pois ajudam na absorção.
Já para as crianças que consomem leite e derivados, a ingestão de cálcio não é problema. Brócolis, feijão e espinafre também podem ajudar nessa questão. “Não se esqueça de oferecer ao seu filho uma lista diversificada de frutas, legumes e verduras“, recomenda Durães. A banana é rica em vitaminas do complexo B, C e E, potássio, ferro e fibras, além dos açúcares naturais, ótimos para o fornecimento de energia. Um cardápio sem os devidos nutrientes pode ser prejudicial para a formação e crescimento dos ossos, desenvolvimento cognitivo, sistema nervoso, sistema imunológico, entre outros.
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Camilla Hoshino; Júlia Pellizon, Crianças vegetarianas: não comer carne é prejudicial? https://lunetas.com.br/criancas-vegetarianas/
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