A alimentação na infância é um tema amplo que exige dos pais e cuidadores conhecimentos e comportamentos específicos, os quais, muitas vezes, não fazem parte do conhecimento geral, assim como os transtornos alimentares (TA) entre as crianças. Esse problema, que pode gerar graves consequências, é influenciado por muitos fatores, incluindo a personalidade dos cuidadores. O artigo publicado no periódico Middle East Current Psychiatry (MECP) mostra que a personalidade materna foi apontada como um fator relevante na predisposição das crianças a desenvolverem transtornos alimentares.
O objetivo deste estudo é investigar como diferentes traços de personalidade maternos influenciam a prevalência de transtornos alimentares em crianças de 6 a 12 anos.
Como esta relação acontece?
As mães desempenham um papel importante na formação dos hábitos alimentares dos filhos. Segundo o estudo, foram analisados fatores de personalidade de mães cujos filhos apresentavam transtornos alimentares, comparando com um grupo sem esses transtornos. Dentre os traços estudados, destacaram-se:
- Controle: a relação com a disciplina e o controle sobre os comportamentos.
- Ternura e imaginação: importantes para promover empatia e compreensão.
- Apreensão: associada a um excesso de preocupação com a alimentação e o peso dos filhos.
Esses traços podem impactar o modo como as mães lidam com a alimentação dos filhos, influenciando desde o tipo de comida até a forma de incentivar o consumo.
Um estilo de alimentação responsivo é a abordagem ideal para os pais, que inclui uma reação apropriada ao comportamento alimentar das crianças. Isso significa honrar tanto a rejeição quanto a aceitação dos alimentos, permitir a autoalimentação da criança, estabelecer limites apropriados, modelar a alimentação e fornecer dietas saudáveis (HUGHES; POWER; FISHER; MUELLER; NICKLAS, 2005).
Resultados do estudo
O estudo mostrou que 13% das crianças da amostra tinham algum transtorno alimentar. Sendo:
- 5,7% têm transtorno de compulsão alimentar
- 2,5% têm transtornos alimentares evitativos e/ou restritivos,
- 1,5% têm anorexia nervosa atípica
- 0,8% têm transtorno de compulsão alimentar (baixa frequência)
- 0,8% têm síndrome da alimentação noturna
- 0,6% têm transtorno alimentar não especificado
- 0,4% têm transtorno de ruminação
- 0,2% têm pica (ingestão de substâncias que não são alimentos)
Foi identificado que certos traços de personalidade materna, como controle e apreensão, estão diretamente associados ao risco desses transtornos nos filhos. Esses traços podem resultar em práticas alimentares coercitivas (de repressão ou opressão), o que impacta negativamente a alimentação e a relação das crianças com a comida.
Esses resultados mostram a importância de incluir a análise da personalidade dos cuidadores no acompanhamento infantil. Profissionais da saúde e famílias devem estar atentos a esses fatores, buscando apoio psicológico quando necessário, para criar um ambiente saudável e respeitoso em relação à alimentação.
Nota: Este conteúdo foi adaptado sob Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional. https://creativecommons.org/licenses/by/4.0
Fonte: Al Agroudi, AAM, Rashed, IH, Yahia, S. et al. Mothers’ personality and children with feeding and eating disorders: a nested case–control study. Middle East Curr Psychiatry 30 , 114 (2023). https://doi.org/10.1186/s43045-023-00384-4
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