A confiança e a habilidade de compartilhar são elementos importantes para o desenvolvimento social das crianças. Desde muito cedo, elas começaram a formar vínculos, baseados em interações simples, que evoluem para relações mais profundas com o passar do tempo. Este estudo revela como crianças pequenas, entre 4 e 6 anos, percebem a confiança e o que as motiva a compartilhar com outras crianças e adultos em seus ambientes.
O conceito de confiança para crianças
A confiança, em adultos, envolve aspectos complexos, como responsabilidade e recompensa. No entanto, para crianças pequenas, o conceito é mais simples e geralmente associado à segurança e proteção que sentem junto a familiares e cuidadores próximos. De acordo com o estudo, 17,95% das crianças entrevistadas foram capazes de definir a confiança em palavras, e a maioria delas relacionou o termo à segurança que sente com pessoas próximas.
Por exemplo, Betts et al. ( 2009 ) examinaram crianças pequenas entre 5 e 7 anos, com participantes com idade média de 6 anos e 2 meses. Eles descobriram que crianças com baixa confiança generalizada tinham menos amigos do que seus pares com maior confiança generalizada.
Isso sugere que a confiança pode influenciar a habilidade de formar e manter amizades, mesmo que as crianças ainda não compreendam completamente o conceito abstrato de confiança. Como mencionado por Piaget (1928, 2006), crianças pequenas têm uma capacidade limitada de abstração, o que as leva a entender confiança com base em experiências concretas e imediatas.
Partilha como comportamento social
A partilha é uma das primeiras formas de interação social em ambientes de educação infantil. As crianças tendem a compartilhar com quem elas têm laços afetivos, como amigos ou familiares, evidenciando que a empatia e a familiaridade são impulsionadores da partilha, mais do que a confiança. Isso significa que, para crianças, a prática de dividir algo é uma forma de criar e fortalecer laços de amizade e pertencimento social.
Como o comportamento de compartilhamento está associado às habilidades mais críticas de socialização, como estabelecer e manter amizades e ser capaz de ganhar aceitação na sociedade, é importante adquirir essa habilidade desde cedo da melhor maneira possível.
A capacidade de compartilhar é vista como relevante para a socialização, pois facilita a aceitação social e a formação de amizades duradouras. Como o comportamento de compartilhamento ocorre em relacionamentos sociais (Paulus et al., 2016), as crianças podem avaliar as decisões de partilha em termos de reciprocidade situacional, em vez de vê-las como um investimento de longo prazo com base em confiança mútua. Para elas, o aqui e agora é o foco principal, como também observado por Piaget (2006).
Confiança e Partilha: caminhos paralelos no desenvolvimento
O estudo chegou à conclusão de que a confiança e a partilha estão relacionadas, mas algumas crianças tiveram dificuldade em identificar e explicar o que a confiança significa para elas. A pesquisa sugere que, para crianças pequenas, compartilhar e confiar são conceitos que seguem caminhos paralelos no desenvolvimento e não necessariamente se cruzam.
Nossas descobertas mostraram que, para crianças pequenas, compartilhar e confiar não são conceitos intimamente relacionados. Confiança é um conceito abstrato. Como a capacidade de abstração das crianças pequenas é limitada, elas tendem a conceituar conceitos abstratos por meio de suas experiências de vida.
A reciprocidade foi um motivo importante para a partilha, especialmente de comida e brinquedos, o que está de acordo com descobertas anteriores, como no estudo de Xiong et al. (2016), onde a partilha entre crianças do jardim de infância foi motivada principalmente por laços afetivos e pelo desejo de reciprocidade.
Além disso, para ambas as situações de partilha, muitas crianças mencionaram o amor como um dos principais motivos para compartilhar, expressando frases como "porque eu amo meu amigo, minha mãe, professor". O amor e a empatia foram destacados como motivadores emocionais tanto para a partilha de comida quanto de brinquedos, evidenciando o papel das emoções na construção das primeiras interações sociais.
Implicações para o desenvolvimento infantil
Para pais e educadores, compreender essa distinção entre confiança e partilha é necessário para criar estratégias de apoio ao desenvolvimento das crianças. A promoção de atividades de grupo e brincadeiras que estimulem a cooperação pode ajudar a solidificar comportamentos sociais positivos. Desenvolver práticas que incentivam a troca e a colaboração auxilia as crianças a aprender a confiar e se relacionar de forma mais profunda com seus colegas e familiares, formando uma base para relacionamentos saudáveis e longos no futuro.
O estudo destaca que, na infância, a confiança e a partilha se desenvolvem de forma independente, mas ambos são fundamentais para o crescimento social. A percepção de confiança associada à segurança, e a prática da partilha como interação social, mostram que essas habilidades evoluem com o tempo. Os resultados sugerem que educadores e pais devem apoiar esses processos de forma intencional, proporcionando oportunidades para o desenvolvimento dessas habilidades sociais nas crianças.
Nota: Este conteúdo foi adaptado sob Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional. https://creativecommons.org/licenses/by/4.0
Fonte: Kotaman, H., Aslan, M. Young children’s trust and sharing decisions. ICEP 18 , 3 (2024). https://doi.org/10.1186/s40723-024-00128-9
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