Pesquisa: Níveis adequados de atividade física, tempo de tela e sono para crianças
A importância do papel dos pais na promoção de hábitos diários entre crianças para um desenvolvimento saudável
Muitos governos em todo o mundo estabeleceram diretrizes sobre a atividade física e comportamentos sedentários de crianças, associados a resultados positivos de saúde. Embora pesquisas indiquem baixa adesão a esses níveis recomendados, não está claro se o conhecimento, as percepções e o apoio dos pais em relação a esses comportamentos podem ser barreiras à adesão.
Objetivos
Este estudo examina o conhecimento e a concordância dos pais com os níveis recomendados de atividade física, tempo de tela e tempo de sono, bem como o apoio que oferecem a esses comportamentos.
Métodos
Pais de crianças de 5 a 12 anos que compareceram a um consultório de clínico geral em Nova Gales do Sul (NSW), Austrália, responderam a um questionário sobre a atividade física, tempo de tela e sono de seus filhos, além de suas crenças sobre os níveis recomendados, os níveis ideais percebidos e o apoio que proporcionam a esses comportamentos.
Resultados
Os níveis ideais percebidos pelos pais para atividade física e tempo de tela de seus filhos foram mais ambiciosos que as diretrizes governamentais e consistentes com as recomendações de sono. No entanto, houve poucas associações entre os níveis de apoio dos pais e os níveis reais ou ideais percebidos desses comportamentos.
Discussão
Os resultados sugerem que as percepções dos pais sobre níveis ideais de atividade física e comportamento sedentário não impedem a adesão às diretrizes governamentais. Contudo, estratégias de apoio inconsistentes ou ineficazes podem limitar a adesão, sendo um alvo viável para intervenções.
Internacionalmente, muitos governos introduziram diretrizes diárias sobre níveis ideais de comportamentos modificáveis para melhorar a saúde e o bem-estar populacional. Além das diretrizes de alimentação saudável, revisões recentes também recomendam níveis diários de atividade física, comportamento sedentário e sono. Por exemplo, em 2021, o governo australiano lançou diretrizes baseadas em evidências sobre atividade física e comportamento sedentário. Isso ocorre em um contexto de aumento da prevalência de sobrepeso e obesidade entre adultos australianos (62,8% em 2012) e crianças e jovens (25,7% em 2012, contra 20,9% em 1995).
As diretrizes australianas indicam que crianças de 5 a 12 anos devem realizar pelo menos 60 minutos de atividade física moderada a vigorosa (AFMV) por dia e limitar o uso de mídia eletrônica para entretenimento (“tempo de tela”) a no máximo 2 horas diárias. Da mesma forma, as Diretrizes Active Start, introduzidas em 2020 pela Sociedade de Educadores de Saúde e Física (SHAPE) da América, buscam apoiar o desenvolvimento físico saudável de crianças em idade pré-escolar, recomendando pelo menos 60 minutos de atividade física estruturada por dia, complementada por várias horas de brincadeiras físicas não estruturadas.
Não há recomendações australianas específicas sobre tempo de sono, mas reconhece-se a importância de um sono adequado. As diretrizes canadenses de movimento de 24 horas, por exemplo, recomendam que crianças de 5 a 12 anos tenham de 9 a 11 horas de sono ininterrupto por dia. A adesão a essas diretrizes é crucial para a saúde individual e societal, dado que atingir esses níveis resulta em melhorias na saúde e no condicionamento físico.
A prática diária de atividade física, sono adequado e limitação do tempo de tela proporcionam benefícios amplos para as crianças, como redução da adiposidade, melhoria da saúde cardiometabólica, musculoesquelética, mental, condicionamento cardiorrespiratório e desempenho acadêmico. Uma relação dose-resposta foi encontrada, indicando que mais atividade física e sono estão associados a maiores benefícios, enquanto maior tempo de tela está ligado a maior adiposidade, fatores de risco cardiometabólico, comportamentos menos pró-sociais, menor condicionamento físico e autoestima reduzida.
Além dos efeitos independentes, esses comportamentos têm um impacto cumulativo na saúde. Pesquisas mostram que quanto mais diretrizes são cumpridas (atividade física, tempo de tela e sono), melhores são os resultados de saúde, independentemente da combinação.
Apesar dos benefícios, a adesão a essas diretrizes é baixa. Um estudo multinacional indicou que apenas 7,2% de crianças de 9 a 11 anos em 12 países cumpriram todas as três diretrizes, com a Austrália apresentando a maior adesão (14,9%) e a menor proporção de não cumprimento (7,1%). Dados australianos de 2011-2013 mostram que apenas 33% das crianças de 5 a 12 anos atingiram 60 minutos diários de AFMV e 29% cumpriram o limite de 2 horas de tempo de tela. Embora não haja dados nacionais sobre sono, estima-se que 75,8% das crianças australianas alcancem 9-11 horas por noite.
Fatores que afetam a adesão incluem influência parental, apoio social, criminalidade local, acesso a instalações, distância da escola e tempo ao ar livre. O apoio parental é especialmente relevante: pais mais ativos fisicamente ou que limitam o tempo de tela tendem a ter filhos com comportamentos semelhantes. Facilitar atividades físicas, impor regras sobre tempo de tela e sono, e oferecer encorajamento também influenciam positivamente.
Objetivos
O estudo investiga se os pais conhecem as diretrizes de atividade física, tempo de tela e sono, se suas percepções sobre níveis apropriados diferem das recomendações governamentais e se essas percepções estão associadas ao apoio que oferecem.
Métodos - Participantes
Foram 61 pais de crianças de 5 a 12 anos que visitaram um consultório médico em NSW entre outubro de 2017 e fevereiro de 2018. A amostra incluiu 75,4% de mães, com 96,7% sendo cuidadores primários. A maioria tinha nível educacional médio a alto, e todos falavam inglês fluentemente. As crianças tinham, em média, 8,92 anos, sendo 50,8% meninos, de áreas de baixo a moderado nível socioeconômico.
Medidas
O questionário, baseado em pesquisas governamentais e longitudinais, avaliou: (a) níveis de atividade física, tempo de tela e sono; (b) percepções parentais sobre níveis apropriados; (c) apoio parental. As perguntas sobre atividade física foram adaptadas de estudos anteriores, com pais relatando minutos diários médios. Perguntas sobre tempo de tela e sono seguiram formatos semelhantes, com o sono calculado a partir de horários de dormir e acordar. O apoio parental foi medido em cinco dimensões (encorajamento, participação, facilitação, monitoramento e educação), com frequência de 1 (nunca) a 5 (diariamente).
Procedimento
Pais foram abordados em um consultório médico e convidados a participar de um questionário anônimo, completado enquanto aguardavam a consulta. A conclusão do questionário foi considerada consentimento.
Análise
Os dados foram explorados para verificar distribuições e consistência com estudos anteriores. Testes t de uma amostra compararam as crenças dos pais sobre diretrizes com os níveis recomendados. Testes t de amostras pareadas avaliaram diferenças entre níveis recomendados e ideais percebidos. Correlações de Pearson examinaram associações entre níveis ideais percebidos e apoio parental.
Resultados - Exploração inicial
Os pais superestimaram a atividade física (média de 85,86 minutos, com 77,6% cumprindo diretrizes, contra 19% em estudos anteriores) e subestimaram o tempo de tela (90,70 minutos contra 136 minutos). Isso sugere viés nos relatos, mas não afetou as percepções sobre níveis ideais ou apoio, foco do estudo.
Conhecimento das diretrizes
A maioria dos pais conhecia as diretrizes: 71,7% indicaram ≥60 minutos de atividade física, 100% ≤120 minutos de tempo de tela e 67,3% 9-11 horas de sono. Testes t mostraram que os níveis ideais percebidos eram mais altos para atividade física (88,11 minutos, p<0,001), menores para tempo de tela (60,17 minutos, p<0,001) e consistentes para sono (10,15 horas, p=0,318).
Associações entre crenças e apoio
Houve uma correlação significativa entre níveis ideais percebidos de atividade física e apoio (r=0,30, p=0,019), mas não para tempo de tela (r=-0,06, p=0,631) ou sono (r=0,23, p=0,080). Isso apoia parcialmente a hipótese de que o apoio parental está relacionado às percepções de níveis ideais, mas apenas para atividade física.
Discussão
Os pais apresentaram conhecimento preciso ou ambicioso das diretrizes, com níveis ideais percebidos mais rigorosos que as recomendações governamentais. Isso sugere que as percepções parentais não são barreiras à adesão. Contudo, a falta de associação entre apoio e níveis ideais ou reais de tempo de tela e sono indica que estratégias parentais podem ser ineficazes. Por exemplo, o apoio para limitar tempo de tela pode ser menos eficaz em casas com múltiplos dispositivos. Estratégias eficazes incluem reduzir TVs nos quartos das crianças, programas escolares e promoção de atividades ao ar livre.
O sono apresentou alta adesão (67,3% conheciam as recomendações), mas sem associação com o apoio, possivelmente devido à baixa variabilidade nos relatos ou diferenças nas necessidades de apoio entre crianças.
Limitações
Os dados baseados em relatos parentais podem conter viés, superestimando atividade física e subestimando tempo de tela. A amostra foi pequena e geograficamente limitada, restringindo a generalização. Pesquisas futuras devem usar medidas objetivas e amostras mais diversas.
Conclusões
Os pais têm percepções mais ambiciosas que as diretrizes governamentais, mas estratégias de apoio ineficazes contribuem para a baixa adesão. Intervenções devem focar em estratégias baseadas em evidências, como oficinas familiares, programas escolares e remoção de TVs dos quartos, em vez de apenas aumentar a conscientização sobre diretrizes.
O estudo mostrou que muitos pais têm expectativas mais rigorosas do que as autoridades de saúde em relação aos hábitos dos filhos. Eles acreditam que as crianças deveriam se exercitar mais e passar ainda menos tempo em frente a telas do que o recomendado pelo governo. Essa visão mais exigente indica que, para muitos pais, os padrões oficiais de saúde podem parecer insuficientes quando o assunto é garantir uma vida mais ativa e equilibrada para os pequenos.
Nota: Este conteúdo foi adaptado sob Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional. https://creativecommons.org/licenses/by/4.0
Howard, M., Akhund, S.A. Parents’ knowledge, perceptions and support around appropriate physical activity, screen time and sleep time levels for children. ICEP 18, 2 (2024). https://doi.org/10.1186/s40723-024-00129-8